domingo, 11 de janeiro de 2009

O Frio

Sim, já todos sabemos que anda um frio de gelar os ossos. De bater os dentes. De congelar em pé. E, para o sexo masculino, de andar de lupa na mão sempre que se quer urinar. Já as miúdas têem que andar com forro extra nos sutiãs... Coisas da vida.

Vou pegar no tópico que o Roberto explorou, mas de um modo talvez um pouco mais abrangente.

Numa época de recessão a nível mundial, com a crise instalada e sem ideias de nos deixar em paz tão depressa, as dificuldades aumentam. Em tempo de dificuldades, a ideia de aproximação entre os povos, e, mais especificamente, entre as pessoas, ganha mais força. Porque é a apoiar-mo-nos uns aos outros que conseguimos ultrapassar adversidades e sair mais fortes.

Tecnicamente falando, nunca estivemos tão próximos uns dos outros. Há 100 anos atrás, para poder ver um amigo ou familiar que vivesse a 200 quilómetros, já sabia o que me esperava: Uma viagem a cavalo, dura, com muitas paragens e, até, uma ou duas trocas de animal, consoante a pressa. Ou, se tivesse a sorte de ser rico, talvez pudesse ir de carro, num ( na altura ) moderníssimo Ford T ou semelhante. Hoje em dia, para o ver, nem precisaria de sair de casa. Ligava o MSN, ligava a câmara, e lá está ele. Comunicaríamos tal qual estivéssemos frente-a-frente.

Humanamente falando, nunca estivemos tão afastados. Porque apesar de eu o ver, e ele a mim, e de podermos falar praticamente cara-a-cara, na realidade eu estou a falar para um computador e ele para outro. Não há interacção, não há calor humano. Não há aquele abraço que se dá a alguém que nos é querido e de quem sentimos saudades. Não há, sequer, uma visão completa da pessoa. Não vou ter hipótese de, por exemplo, lhe comentar "caramba, tás mesmo gordo!!!". Não vou ter hipótese de ir com ele beber um café, rever outros amigos comuns, rever a terra.

É esta a definição de aldeia global. Toda a gente está ao alcance de um clique. Mas muitos poucos estão ao alcance de um beijo, de um aperto de mão, de um abraço... E isto, sim, é um frio preocupante, não o frio meteorológico. Esse vai e vem, como é da ordem natural das coisas. É a Natureza a renovar-se a si mesma. Nós não nos renovamos com ela; ficamos, cada vez, mais frios, mais distantes uns dos outros. Até mesmo nos chamados engates; hoje em dia, qualquer gajo que queira engatar uma miúda acha mais fácil ir ao Hi5 e ver o que arranja, do que ir a uma discoteca e ver o que pesca. Isto, sim, é frio. Mas este não se renova, não vem um calor no seguimento... Apenas um glaciar, de aproximação virtual e distanciamento físico.

1 comentário:

  1. "E isto, sim, é um frio preocupante, não o frio meteorológico"

    Para "combater" este frio meteorológico sempre tens a possibilidade de comprar um aquecedor mais roupa, mas para o outro frio é lixado, porque nem com aquecedor la vais, só há um calor que te aquece, o calor humano de um abraço de um amigo...

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